Adrian Grant entrevistou Michael Jackson em 1997


''Eu amo os brasileiros, eu sinto por eles o mesmo que eu sinto pelos indianos e africanos''

Adrian: Ao longo da sua carreira você constantemente levou sua arte para um outro nível. Como você vê suas apresentações ao vivo no futuro?

Michael: Eu não quero mais fazer turnês mundiais, ou pelo menos, não acho que farei. Eu quero passar o resto da minha vida gravando discos e filmes. Eu farei algumas apresentações especiais aqui e ali, o que eu amo é me apresentar. Mas eu venho fazendo isso desde que eu tinha cinco anos. Agora quero criar algo memorável para os próximos cem anos e eu quero que seja nos cinemas.

Adrian: Você quebrou muitos recordes na sua bem sucedida turnê HIStory. É difícil se manter motivado a cada show, depois de mais de trinta anos se apresentando?

Michael: Eu geralmente vou para uma apresentação sem sentir que faço como se fosse um trabalho, assim que chego lá eu sinto a energia da plateia antes mesmo de subir no palco. E a mágica toma conta – não importa o que você sente, se está cansado, de repente você só quer ir lá e fazer. A energia que vem de algum lugar. É como se fosse Deus lhe abençoando.

Adrian: Que satisfação pessoal você ganha em cada turnê?

Michael: Vendo todas as raças juntas, é o que amo mais. Todas as cores na plateia amando-se uns aos outros, ligados uns aos outros e curtindo a música - algo extraordinário!

Adrian: Você já viajou por diversos países ao redor do mundo. Você pode me dizer sobre a sua admiração pelo Brasil e a experiência que voê teve ao filmar o vídeo They Don’t Care About Us?

Michael: Eu amo os brasileiros, eu sinto por eles o mesmo que eu sinto pelos indianos e africanos. Há muita pobreza no Brasil e eu deixei parte do meu coração com eles desde a primeira vez que eu estive lá. As pessoas são tão doces, eles estavam tão felizes em me ver!! Você sabe, eles estavam explodindo de excitação e eu estava muito feliz em estar lá por eles. Eu gostaria de ter feito mais - eu me sinto mal por não ter feito o suficiente, eu sinto mesmo.

Adrian: Por que você escolheu Spike Lee para ser o diretor do vídeo?

Michael: They Don’t Care About Us tem a sua aspereza, e o Spike Lee tinha se aproximado de mim. É uma canção de alerta e é sobre isso que ele trata. É uma espécia de canção de protesto – não é uma canção racista, é uma canção anti-racismo e eu achei que ele seria perfeito para fazer isso.

Adrian: Você escreveu uma canção chamada Money. Sendo um milionário desde que era um garoto, qual a importância que o dinheiro tem para você?

Michael: Eu acredito que seja o que faz as coisas acontecerem...para preencher alguns dos seus sonhos você precisa de um apoio financeiro. No entanto, eu acho que tudo começa com um pensamento. Por exemplo, se você planta uma semente e você mesmo a cultiva, tudo surge a partir dali. Eu nunca realmente pensei sobre isso quando era pequeno, eu sempre senti que eu era compelido a fazer aquilo que eu quisesse.

Adrian: Você não encontra dificuldade em relacionar as necessidades e a dor de sofrer por ter aparentemente tudo o que você deseja?

Michael: Não. Não, de forma alguma. Sendo um viajante do mundo, eu me sinto tocado e comovido por tudo o que acontece, especialmente com as crianças. Isso me deixa emocionalmente doente e passo por muita dor quando vejo esse tipo de coisa. Eu não posso fingir que não vejo. Isso me afeta muito. Por alguma razão há certa parte na minha apresentação que me emociono e no holofote eu tenho um certo pensamento – eu acho que é a situação difícil das crianças e isso me atinge o tempo todo. Eu não sei porque naquele lugar, é durante I’ll Be There, os pensamentos apenas vem até mim e duramente tento me conter.

Adrian: Qual a sua canção favorita no álbum HIStory e por quê?

Michael: Minhas canções favoritas são Earth Song, Childhood e You Are Not Alone porque eu gosto das canções com emoções e mensagens e um sentido de imortalidade. Eu gosto de letras que tenham profundidade assim como melodias simples onde todo mundo pode cantar junto com elas. Isso foi o gol que fiz, capturar isso nessas canções e acho que cheguei bem perto. Não importa o local onde esteja a turnê, as pessoas amam essas canções, e eu me sinto muito satisfeito por ter as feito.

Adrian: Você diria que há um tema recorrente em todo álbum HIStory?

Michael: É tudo sobre as pessoas olhando para suas vidas, e fazendo algo com elas mesmas – criando um legado que você possa olhar para trás e ver o que você fez. Eu sempre quis isso, e por isso gosto de trabalhar duro.

Adrian: Como foi que surgiu a sua colaboração com R. Kelly em You Are Not Alone?

Michael: R. Kelly me enviou uma fita com a canção e eu gostei do que ouvi. Não tinha harmonia nem modulação, mas disse para ele que ele tinha escrito a canção mas se ele concordaria que eu acrescentasse algo que eu pensava que deveria ter. Ele disse "claro", então fui lá e a produzi. Coloquei um coral no final e fez uma grande modulação então a canção teve um sentido de climax e estrutura.

Adrian: Por que você decidiu incluir um cover dos Beatles a canção Come Together no álbum HIStory?

Michael: Estava chegando em casa da igreja e meu produtor estava brincando com essa canção, a qual não tinha pedido a ele para fazer, mas quando eu escutei disse ‘WOW! Essa é a minha canção favorita dos Beatles.' Então eu fui lá e gravei em um take. Nós fizemos com que ficasse mais crua e funky. Foi algo espontâneo, mas eu sabia que o queria fazer com ela.

Adrian: Você diria que agora você compõe sua música de um ponto de vista mais pessoal, comparado com o som totalmente disco que você fazia no início das suas composições?

Michael: Eu nunca cataloguei música porque eu nunca sento e digo 'hoje vou escrever canções disco, pop ou rock'. Eu simplemente escrevo de acordo com a minha emoção, de acordo com o que estou pensando no momento. Eu crio e praticamente me sinto culpado colocando meu nome nessas canções que escrevo porque elas vêm de uma outra fonte. Eu sou apenas um funil onde elas vêm, eu realmente acredito nisso. Elas vêm lá de cima. Elas me escolheram, eu não as escolhi.

Adrian: Blood On The Dance Floor é um título bem chamativo. É uma canção que trata sobre a AIDS?

Michael: Não é, não mesmo. Na verdade eu não criei o título, foi meu produtor (Teddy Riley) que bolou o título, e que achei bem legal, então eu escrevi a canção a partir do título. E então eu cometi um engano,
pelo qual peço desculpas, mas eles não mostram isso na TV. Eu estava me escondendo na Inglaterra por volta de 1993, e o Elton John me deixou usar a casa dele. Ele foi tão doce e gentil, e eu pensei que não tivesse agradecido a ele. Então eu decidi dedicar Blood On The Dance Floor para ele. Mas depois isso surgiu e eu disse 'Por que eu não dediquei uma outra, de tantas que havia, como You Are Not Alone ou alguma outra!!' Então sempre achei que deveria pedir desculpas a ele por isso – é a maneira dele de ser tão gentil. Ele é uma pessoa maravilhosa.

Adrian: Você sente que há uma conexão com o que veio acontecendo com a Princesa Diana, nas muitas canções no álbum HIStory quando você fala a respeito do seu tormento pessoal e a perseguição que sofre dos outros?

Michael: Sim eu sinto e muito. Eu acho que a compreendia. Nos momentos em que estivemos juntos, foram momentos muito íntimos e pessoais, nós conversamos a respeito de vários assuntos. Eu acho que foi uma tragédia, uma perda trágica. Eu sinto que pessoas como eu e outros artistas deveriam carregar a tocha que foi a missão dela e eu acho que tinha esse discernimento– é o que quero fazer. Eu a achava brilhante.

Adrian: Você acha que Tabloid Junkie dá destaque a toda circunstância trágica que envolveu a morte da Princesa Diana?

Michael: Sim, os tabloides são um maço de lixo. Eles são uns intrusos. É algo horrível. A maneira como eles te caçam e invadem a sua privacidade é terrível. Eles criam algo feio, eles nunca pensam em como a pessoa se sente quando lê aquilo que eles escrevem.

Adrian: Quando e como você surgiu com a ideia de fazer o fabuloso curta-metragem Ghosts?

Michael: Começou com a Família Addams, eles queriam um tema (Is It Scary) para o filme deles, mas no fim eu não queria mais fazer, então caímos fora. Eu decidi então fazer meu próprio curta-metragem. Eu amo filmes, eu amo cinema e é o que quero para o próximo capítulo da minha vida – filmes e álbuns. Não há mais lugares para ir. Eu farei filmes, álbuns e dirigir, porque eu amo fazer isso.

Adrian: Quais pessoas e eventos na história mundial que tem uma parte significante na sua vida e por quê?

Michael: Eu diria que John F. Kennedy, porque isso marcou a minha geração quando era pequeno. Eu acho que ele foi um grande presidente para a América. Eu vi algo sobre o movimento pelos direitos civis na televisão mas nunca participei pessoalmente, mas afetou todo mundo.

Adrian: Como você gostaria que a História retratasse Michael Jackson?

Michael: Eu acho que como alguém que deu toda a sua habilidade e talento para fazer o que faço, salientar as mensagens de amor e paz, o sofrimento das crianças em todo o mundo e levar isso a um nível
universal. Isso foi criado através da música, da dança e dos filmes – Eu acredito que essa seja a minha missão e estou muito feliz por ter sido escolhido.

Fonte: http://forevermichael.forumeiros.com